sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

A árvore dos tamancos

Crianças desempenhando funções de adultos e integradas, com suas famílias, à dura realidade do dia a dia. Vivendo e aceitando a dureza da vida pobre, com resignação e simplicidade. Inovando e renovando, todos os dias, a alegria e o poder criativo nas relações, no lazer e nas brincadeiras. Exercitando o amor em breves flertes respeitosos, com a beleza e pureza dos seres e da natureza. Mas sujeitos às injustiças sociais...

“A Árvore dos Tamancos” é considerado um dos grandes trabalhos do diretor Ermanno Olmi (Bérgamo – Itália - 1931). Seguindo os moldes do Neo Realismo Italiano, trabalhando com camponeses reais sem nenhuma experiência como atores, o diretor nos mostra a dura realidade de um agrupamento de famílias que vivem na região da Lombardía, no final do século XIX. Vivendo sob um regime de meeiros, onde a partilha de tudo que se colhe é feita em uma proporção de dois para um, cabendo aos trabalhadores a menor parte.

Individualmente, os personagens têm objetivos diversos na vida. O que os une é a luta pela subsistência, onde todos buscam uma saída para os seus problemas, dividindo os trabalhos, as angústias e se apegando à religiosidade e crença em Deus, como única saída para os seus infortúnios. Talvez um contrapeso para as limitações sociais impostas pelo sistema, buscando uma compensação divina para as desgraças e dissabores que os assolam na vida diária.

O tema central trata da história de um casal que, aconselhado pelo pároco, envia seu filho, criança notadamente inteligente, à escola. Isso o obriga a caminhar alguns quilômetros diários para estudar. Em uma dessas idas e vindas, o menino vê o seu calçado partido e, com muita dificuldade e lentidão consegue retornar à sua casa. Diante do acontecimento e da falta de recursos para comprar outro calçado, seu pai resolve cortar, às escondidas, uma árvore para, à noite, durante as orações da família, confeccionar um novo sapato para seu filho. As consequências dessa atitude, no desfecho do filme, nos conduzem à triste percepção de um mundo cruel, movido pelo poder e alheio às necessidades humanas.

Mesmo seguindo uma linha documental, o diretor conduz toda a trama com lirismo, esmero e abordagem poética. Sem evitar a crueza dos costumes e da condição dos camponeses pobres, ele nos leva à percepção da solidariedade humana em meio à pobreza. Da criatividade nas relações pessoais e do lazer em acordo com as condições sociais, onde todos cultivam, juntos, o bom humor e preservam o respeito e a amizade.

No final, a triste constatação de que nos tempos atuais vivemos em um mundo mais evoluído, porém com a persistência dos mesmo problemas: a dificuldade do acesso ao conhecimento e o domínio capitalista massificando e induzindo a maioria da população, com interesses alheios às necessidades do povo. Que em pleno século XXI ainda se permite a fome, a pobreza e a falta de educação básica. Que se promove a violência e se permite que os mecanismos tecnológicos, que poderiam tornar a vida de todos os seres melhor, pouco a pouco se convertem em grandes e comprometedores problemas que favorecerão, em curto prazo, o desemprego em nível mundial.
Premiado em vários países, “A árvore dos tamancos” obteve a Palma de ouro (melhor filme), no Festival de Cannes 1978, além do Prêmio Especial do Júri Ecumênico.

A ÁRVORE DOS TAMANCOS
(L´Albero Degli Zoccoli, Itália / França, 1978).
Direção, Roteiro e Fotografia: Ermanno Olmi.
Elenco: Luigi Ornaghi, Francesca Moriggi, Omar, Brignoli, Antonio Ferrari, Teresa Bresciani, Giuseppe Brignoli.
Drama / História.
186 minutos.
https://youtu.be/juvT6B_c0VA